Conferência "Do Alto das Picoas à Casa Prego: viagens do olhar em torno de uma resistência", por Paula André.
- ritaneves3
- há 7 dias
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No âmbito da exposição Vizinhanças: ausências e presenças em torno da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, patente na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves e dando início ao Ciclo de Conferências da exposição, será apresentada no dia 15 de Julho pelas 18h no auditório da PLMJ (Av. Fontes Pereira de Melo, nº 43, piso 0) a conferência Do Alto das Picoas à Casa Prego: viagens do olhar em torno de uma resistência proferida por Paula André (Dinâmia’cet-Iscte-Instituto Universitário de Lisboa) curadora da exposição.
Conferência
Partindo da expansão oitocentista de Lisboa, da morfologia urbana do Sítio das Picoas, e de um olhar radiográfico cruzado com diferentes fontes (mapas, projectos, fotografias, revistas, jornais, filmes), a conferência Do Alto das Picoas à Casa Prego: viagens do olhar em torno de uma resistência procura desvelar os palimpsestos e os ambientes construídos, do lugar onde se construiu a Casa-Atelier do pintor José Malhoa, raiz da actual Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, que pela sua resistência se constitui como Casa Prego. Esta viagem do olhar será suportada pelos conceitos operativos de palimpsesto (André Corboz), preexistências ambientais (Ernesto Rogers) e uso interessado da história (Fernando de Terán) com o objectivo de dar a ver as várias camadas e vidas de algumas construções às quais se associam diferentes autorias e expressões arquitectónicas, assumindo a cidade como organismo vivo.
Exposição
Inaugurando as comemorações dos 120 anos da atribuição do Prémio Valmor à Casa Atelier José Malhoa a exposição Vizinhanças: ausências e presenças em torno da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, procura desvendar e revelar rupturas e continuidades do entorno da Casa Atelier José Malhoa - Prémio Valmor de 1905, e da posterior Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves. A pesquisa nos Arquivos da Câmara Municipal de Lisboa, entendidos como espaços de criação de brechas e de pistas, possibilitou contactar com o passado, prosseguir o sentido da teoria da suspeita, e preencher silêncios. Através de uma pesquisa intencional e aberta das fontes primárias (cartografia, projectos, processos de obra, fotografias, publicações periódicas…) realizada por uma equipa colaborativa com um olhar radiográfico, montam-se narrativas iniciadas no Alto das Picoas com fortes e quintas, assinalados na cartografia histórica, e prossegue-se com as transformações do tecido urbano, associadas ao Plano das Avenidas Novas de finais de oitocentos, e associadas aos ambientes construídos. Assim partindo da cidade contemporânea e da investigação exibem-se e assinalam-se mutações da morfologia urbana (estradas, ruas, avenidas, praças, quarteirões, quintas, hortas, jardins, muros) e de edificações actuais e desaparecidas (Palacetes, Moradias, Prédios de Rendimento, Matadouro, Mercado, Hotel, Maternidade, Estação dos Correios, Capela, Igreja, Cine-Teatro, Centros-Comerciais…) do que se constitui nas suas ausências e presenças, como as vizinhanças do que assumimos como casa prego - Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves.
Através da exibição de diferentes fontes e suportes a exposição organiza-se em 4 núcleos:
Núcleo 1-O Sítio das Picoas: um Olhar Radiográfico desvelando o(s) Palimpsesto(s), a partir da delimitação da área de estudo (Avenida Duque d’Ávila, Rua Filipe Folque, Rua de São Sebastião da Pedreira, Rua Viriato, Rua Andrade Corvo, Avenida Duque de Loulé, Rua da Escola de Medicina Veterinária, Avenida dos Defensores de Chaves) e da sinalização da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves na Cartografia actual e na Cartografia histórica, procura-se dar a ver as camadas desse sítio/território, revelando os nomes de sítios e quintas e a sua progressiva evolução/urbanização. Será também possível revelar pré-existências, em relação ao Plano de Ressano Garcia de finais do séc. XIX, destacando o Matadouro Municipal (meados do séc. XIX) e sinalizando o Palácio da Condessa de Camaride (séc. XVII-XVIII). Finalmente o destaque da infraestrutura Viaduto do Andaluz, associado à Avenida Fontes Pereira de Melo “construída numa situação topográfica particularmente adversa”.
Núcleo 2-O Quarteirão: os Vizinhos do Lado da Casa-Museu, partindo do actual rasto e delimitação do quarteirão onde se implanta a Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves (Avenida Cinco de Outubro, Rua Pinheiro Chagas, Avenida Fontes Pereira de Melo, Rua Latino Coelho), procura-se reconstituir as sete construções que componham o quarteirão, aí implantadas entre 1902 e 1908 (uma construção de 1902; uma construção de 1903; duas construções de 1904; uma construção de 1905; uma construção de 1907; e uma construção de 1908), dando a ver as construções desaparecidas e revelando as suas vidas e alterações, e que se constituiu como uma vizinhança de proximidade imediata, assumida como os vizinhos do lado, primeiro da Casa Atelier José Malhoa e depois da Casa-Museu.
Núcleo 3-A Casa-Museu: a Casa Prego, partindo objectivamente da contemporaneidade da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, que resulta da junção de duas construções do
Arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior – Casa Atelier de José Malhoa (1904) e Casa de António Pinto da Fonseca Motta (1908), procura-se dar a ver a evolução da Casa-Museu, que se converteu numa casa prego em resistência às dinâmicas urbanas operadas no quarteirão onde se ergue, na sequência da demolição de quatro edifícios, com a posterior construção do projeto FPM 41 (atelier Barbas Lopes Arquitectos) e a implantação do Jardim Augusto Monjardino (atelier HAHA-arquitectura paisagista).
Núcleo 4-Outras Vizinhanças: o Tecido Urbano, partindo de viagens do olhar em torno de ambientes construídos passados e actuais, procura-se revelar traçados e construções correspondentes a modos de pensar, projectar, demolir, regenerar e usar a área em torno da Casa-Museu e que se constitui como as outras vizinhanças. De entre as sucessivas camadas do tempo no espaço, fruto das dinâmicas urbanas destacam-se: o Palácio da Condessa de Camaride, depois Colégio Normal de Lisboa, e posterior construção do Cinema Monumental cuja demolição daria lugar ao actual edifício “Monumental”; o Matadouro Municipal cuja área de implantação viria a dar lugar ao primitivo Mercado 31 de Janeiro e hoje ocupado pelo Saldanha Residence; a igreja dedicada à Imaculada Conceição que começou a ser construída mas não concluída e que no local de implantação se veio a construir a Maternidade Dr. Alfredo da Costa; o Palacete Silva Graça, depois transformado em Hotel Aviz cuja demolição daria lugar ao Hotel Sheraton e ao Edifício Aviz/Imaviz.
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